A Mulherzinha

Por Luis Fernando Veríssimo 

Esta história é da Mulherzinha. O marido sempre a tratava assim. “Minha mulherzinha…” Tinha enorme carinho pela mulher. Olhava para ela como se olha para uma criança, ou para um cachorrinho. Sua mulherzinha. Ela às vezes tentava reclamar, reagir, e então ele ria muito. Virava-se para quem estivesse por perto e dizia:– Viram só? Ela virou fera! Essa mulherzinha…E a abraçava ternamente. A mulherzinha vivia na sombra do marido. Quando tentava dar sua opinião sobre algum assunto mais sério, ele piscava o olho, afagava sua cabeça e dizia:– Não preocupa essa cabecinha linda com essas coisas. Vai fazer um cafezinho pra gente, vai. A mulherzinha se resignava. E um dia o marido chegou em casa, foi dar um beijo na sua testa, como fazia sempre, e não acertou a testa. “Ué, você está diminuindo de tamanho?” Mas não esperou para ouvir a resposta. Nunca ouviu as respostas da mulher. Ela era seu mimo. O seu cachorrinho. Naquela noite notou que a mulher realmente parecia estar encurtando. E na manhã seguinte levou um susto. A mulher estava do tamanho de uma criança. Quando a carregou pela mão ao médico, preocupadíssimo, ela já estava da altura o seu joelho.  O médico não soube explicar o fenômeno. A mulher permanecia perfeitamente proporcionada, só menor. O marido apavorou-se. Não era apenas o fato de não ter mais uma mulher para abraçar. Ela não podia fazer coisas que fazia antes. Levava dois, três dias para cerzir uma meia. Tinha que fazer o cafezinho xícara por xícara, pois não agüentava o peso de mais de uma. Não podia mais cozinhar, sob o risco de cair na panela. Ia na feira e trazia um tomate na cabeça como uma trouxa. Um aspargo debaixo do braço. Para costurar os botões na camisa do marido, tinha que segurar a agulha com as duas mãos. Os amigos, estranhando que não eram mais convidados para visitar a casa deles, perguntavam: Como vai a mulherzinha? E o marido queria brigar. Quem é que você está chamando de mulherzinha?

Um dia, aconteceu. O marido chegou em casa com uma caixa de bombons para a mulher – ela levava um dia só para chegar no recheio – e não a encontrou. Tinha desaparecido. Estava, provavelmente, do tamanho de um cisco. E até hoje o marido anda pela casa na ponta dos pés, cuidando onde pisa, para não pisar na mulherzinha. Desconsolado.

Se você não leu, leia tbm a história do maridinho logo abaixo. Ando sem inspiração esses dias, mas em breve tem texto novo, ok? Abraços!

5 comentários sobre “A Mulherzinha

  1. Esperar inspiração com textos de Veríssimo é um presente. Beijocas!

    (Os feeds me deixam super informada, mas anti-social demais. Sorry. Por isso de vez em quando furo eles e venho acarinhar mais de pertinho. Beijos!)

  2. O que mais me incomoda em ambos, maridinho e mulherzinha é justamente essa anulação de si próprio que ainda é confundida com amor! E é justamente o contrário.
    Para não fugir à regra: Veríssimo é fantástio!! Petáculo!!

  3. Tô vendo que só eu tenho essa certa “marra” com o Veríssimo (rs), enfim, continuo tendo (rs).
    O maridinho anda desconsolado para não pisar na mulherzinha?
    Affff….pisou o tempo todo. Olha no olha no que ela se transformou? Se mata ! kkkk

  4. E ai Sall fiquei feliz por ver q o seu dom está a cada dia mais aperfeiçoado por Deus.
    Um grande Abraço
    Deus te Abençoe

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